domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sorrir

Segurei pela primeira vez aquele bebê em um domingo de sol. Sempre tive medo do olhar dos bebês e, naquela vez, não era diferente. É como se o olhar deles penetrasse minha alma e soubesse de meus pecados de homem. Como se deles eu não conseguisse manter minhas máscaras e meus maiores pecados e falhas fossem cristalinos para eles.

O bebê cheirava como bebês devem cheirar. Um misto de perfume natural com leite azedo. As pequeninas e macias mãos brincavam com minha barba, seu rostinho rosado era delicado, sua boca emitia pequenos sons ininteligíveis e carinhosos. Meu olhar cruzou com o da criança que fomos todos um dia. Pela primeira vez em minha vida o medo dissipou-se. Naquele olhar não havia meu temido julgamento, ao contrário, parecia bendizer e perdoar todas as chagas de minha alma.

Aquilo durou apenas um momento, até que ela, com sua natural necessidade, gorfasse no Clint Eastwood estampado em minha camiseta, fazendo com que eu sorrisse para a vida como nunca sorrira até então.

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